Elas por eles
Competentes e de confiança
Aos poucos, mulheres ganham espaços em serviços antes realizados exclusivamente por homens
Carlos Queiroz -
Bote salva-vidas, limpador de para-brisa, GPS, painel solar, conexão wireless. A lista é infinita ao falamos de invenções feitas por mulheres. Ainda assim, quando ela é vista prestando um serviço antes realizado por homens, achamos diferente. Eleonora Bitencourt, 37, pega seu capacete pela manhã e só o larga à tardinha, quando chega do trabalho de mototaxista que abrange toda a cidade de Pelotas. Os dois filhos e o neto aguardam a mãe e avó que, junto do marido, sustenta a casa unicamente com o veículo.
Misto de competência e confiança é o que procuram as mulheres que contratam o trabalho feminino. Sem perceber diferenças na prestação do serviço, salientam apenas o cuidado e a atenção que muitos homens não dispõem. Um censo do IBGE em 2008 constatou que 39,2% das mulheres do país trabalhavam por conta própria. Para a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Pelotas, Dina Bandeira, o mercado de trabalho é diferenciado para a mulher.Para ela é urgente que as vagas sejam ocupadas com o mesmo nível de respeito, oportunidade e salário entre os sexos.
A estudante de Agroecologia da Furg, Julhana Figueiredo, 25, realiza tele-entregas no período de férias da faculdade. Ao dar preferência a mulheres e idosos conseguiu planejar sua mudança de cidade somente com a verba levantada com esta atividade. Confortável em desempenhar a atividade, acredita ser bem aceita na área. Da mesma forma sente-se a Ana Lucia Nobre, que há 22 anos passa mais tempo na Princesa Isabel, entre Barroso e Santa Cruz, do que na própria casa.
Muitas meninas encontram satisfação nos seus trabalhos, mas isto não significa que preconceito ou assédio por parte dos contratantes e do público em geral não exista. Para um trabalho com características delicadas, a mulher é vista como candidata; ao ser considerado um cargo de responsabilidade maior, ela é a primeira a ter capacidade questionada e receber o menor salário. Isto é o que acredita a coordenadora do Observatório de Gênero e Diversidade da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Renata Pinheiro. Para ela, a competência da mulher independe da expectativa e de conceitos que lhe são impostos.
Ex-trabalhadora de um lava jato, M.M., de apenas 16 anos, já atuou por um ano na área. Ela relata que por ser mulher recebeu recusas no atendimento de clientes. “Eram muitos os olhares de espanto”, conta. Apesar disso, a estudante alegra-se ao lembrar que o tratamento positivo recebido sobressaiu-se a essas situações.
Uma professora aposentada que prefere não ser identificada mora com a irmã e a mãe de 82 anos. Cansada de contratar serviços que não atendem as suas expectativas, conta que o medo de contratar homens estranhos para reparos em sua residência é gritante. Há um ano ela conheceu o trabalho de Patrícia Rosa, 37, que no seu cartão de visitas traz a frase: “Se você mulher não se sente segura nos dias de hoje (…), pode me ligar”.
A prestadora de serviços elétricos e gerais tem atendido uma média de 12 clientes por mês, o que ajuda a complementar sua renda. Ela diz que nas visitas, geralmente agendadas por outras mulheres, são comuns os relatos de atividades mal desenvolvidas e assédio por parte de atendentes homens. Patrícia espera servir de incentivo no surgimento deste tipo de serviço feminino e estima montar um negócio conjunto.
Troca de serviços on-line
Aproximar as mulheres para que juntas tenham mais voz. Esta é a ideia do grupo no Facebook Vamos juntas Pelotas. Criado pela jornalista porto-alegrense Babi Souza, o projeto acabou tomando proporções maiores.
Posts sobre ajuda psicológica, ginecológica e serviços em geral eram comuns na plataforma, mas no último mês uma ideia acabou trazendo maior interatividade para o espaço: a troca de serviços e conhecimentos. A troca de conhecimentos gera uma quebra na maneira como lidamos com o consumo - é o que considera a criadora de um dos posts, Roberta Irizaga. Ela acredita que grande parte do que as meninas se propuseram a ensinar ou aprender é encontrada em tutoriais na internet. Porém, aprender com outra pessoa é uma experiência enriquecedora.
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